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Ensaios-->Baú de Memórias -- 10/03/2002 - 08:51 (Maria Dalva Junqueira Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma explosão silenciosa
Delermando Vieira



& 61519;
s trunfos de uma narrativa está, às vezes, no aspecto da condução, no maneirismo natural, criativo e ardiloso do autor. Nem sempre confundir simplicidade com vulgaridade, feito este que muitos narradores, buscando edificar algo verdadeiro, belo, sábio, incorrem sobremaneira desditosos. Às vezes, pode o narrador enveredar-se pelas veredas insensatas da repetição, como pode, também abrir lacunas, fechar caminhos, tão necessários à cons-trução de uma boa narrativa. O fato, esmero coerente, faz parte, essencial, de uma narrativa notável, interessante. No caso de muitos, e isso é freqüente, ocorre distorções, ambigüidades, irrelevâncias, ou seja, desvios de momentos importantes, algo assim. A concisão, para muitos é de suma importância; para outros, é preciso que se alongue, detalhe, faça-se presente na minúcia do en-redo, da trama, da imagética, fazendo valer, desse modo, a riqueza de todo um emaranhado singular, sério e evidente.

Em baú de memórias faz-se presente uma narrativa natural, linear, discreta, tendo, porém, no animus de sua história, a realização de fatos, diálogos, ima-gens, imbuídos de simplicidade, mas retóricos no seu estar, sem contudo, dei-xarem transparecer uma inverosimilhança fatal, longe da sincera criação da autora.

A narração, aqui levada aos ícones do regional, dá-se por inteira, muito embo-ra tenha, enquanto estilo, a direção una de todo um apanhado real, onde, por certo, viajam as figuras, o som, o odor, o imaginar, da terra, das águas, do chão haurindo-se forte, ousado, distanciando-se às interporeis da natureza vi-brante, tempestuosa, grave, em sua razão de viver, fazer da vida uma explo-são (silenciosa) inerente aos engenhos e ardis de seus personagens.

Aqui, neste baú de memórias, nota-se que a autora, preocupou-se em er-guer o mundo, o modus vivendi, de um tempo que, perdido no tempo, ainda vive, rumina e assombra, na sua própria memória; é, talvez, o tempo dela mesma, a autora, uma certa representação, revivência, de seu único orbe, a fantasia emocional, rediviva, de casos, imagens e personagens erigidos em sua memória, como uma galeria de águas, de seres, currais, sertão, luz e som-bra, rumorejando em si mesmos.

Por isso, então, toda a natureza textual desta narrativa nada mais é que uma fotografia, um registro de vidas, de personagens, tais como Rafaela, Eugênia, Caetana, Matilde, Juvenal... nada mais que um movimentar-se, transido, irre-quieto, de cada vida, cada instante, circulando, revivendo, agindo. Todo o aparato, por sinal poeticamente erguido pela autora, traz, no seu cerne, a pro-priedade, o suor, o viço, o cheiro da terra, com seus costumes, suas crenças, sua força natural, enraizada até os ossos, completa na sua seqüência de ser.

Os personagens, aqui, se misturam, sem se confundirem, como num jogo de espelhos unos, refletindo e refletidos em si, como cacos e resquícios de lem-branças, saudades e destinos efêmeros.
A autora, embora tentando concatenar, figurar e desfigurar imagens, tema, anuências de seus personagens, cria, sobretudo, um todo de testemunho de vida sertaneja, telúrica, com seus carros de boi, seus frutos, suas panelas, seus temperos, suas mezinhas. É sem dúvida, toda esta narrativa, uma espécie de fatos, que têm por sentido um eco nos tempos, na origem de antanho.

Como uma cantiga que, lentamente, vai se espraiando, saindo, docilmente, dos furos, do sopro de uma flauta mágica, vão os fatos se desenvolvendo, ga-nhando corpo, alma, dentro de um conduzir limpo, simples, verdadeiro, hu-manamente belo em detalhes concisos; e a mãe natureza é, sem resquícios de mistério, a figura mais constante nesta narrativa; daí, enfim, o título baú de memórias ter como cenário Vazante, o centro de tudo.

Daí, então, ser, aqui, a natureza o personagem maior, e, naturalmente, não nos cabe, por assim dizer, traçar, às claras, o enredo, pois, assim sendo, certa-mente o leitor perderá o interesse de viajar por esta narrativa; por isso, prefe-rimos deixar, no ar, o que vai, de modo tão sublime e terral tirado do fundo do baú de memórias.

Primavera, 1997
D.V.







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